"ECHELON GRAMPEIA AS TELECOMUNICAÇOES DO PLANETA"
Publicado originalmente por BUSINESS WEEK

"Telefonemas, fax, telex, correio eletrônico, transmissões de radio e microondas, nada escapa as antenas e computadores da Agencia de Segurança dos Estados Unidos.


"Você acha que a internet representa graves problemas a privacidade? Então provavelmente não conhece o ECHELON."


"Administrado pela supersecreta Agencia de Segurança Nacional (NSA, sigla em inglês) dos Estados Unidos, ele é avô de todas as operações de espionagem. Lideres políticos empresariais estão despertando para o alarmante potencial desse sistema confidencial. Uma combinação de satélites de espionagem e sensíveis estações de escuta, ele intercepta quase todas as comunicações eletrônicas que cruzam uma fronteira nacional -- telefonemas, fax, telex e correio eletrônico -- alem de todos os sinais de radio. O sistema de alcance planetário do ECHELON também escuta a maioria das telecomunicações de longa distancia nacionais dos países, até chamadas locais de telefones celulares.
"De fato, se um telefonema ou uma mensagem viaja por satélite ou por microondas em algum ponto da sua jornada, provavelmente é interceptado pelo ECHELON. Assim, a maior parte do trafego mundial de telecomunicações esta grampeada, pois mesmo cabos submarinos de telefonia e sistemas terrestres de fibra óptica muitas vezes tem ligações de microondas em algum ponto do circuito. 'Os cidadãos americanos deveriam saber que toda vez que fazem uma ligação internacional, a NSA esta ouvindo', diz John E. Pike, analista militar da Federação dos Cientistas Americanos, em Washington. 'Acostume-se com o fato: o Grande Irmão esta ouvindo.'


"A codificação tampouco dá garantia de privacidade. A NSA -- que é maior do que a CIA -- administra o ECHELON a partir de sua sede em Fort Mead (Maryland), não tem problemas em decifrar mensagens codificadas com a maioria dos softwares comerciais de criptografia. Com um pouco mais de tempo, a NSA provavelmente pode 'quebrar' sistemas de código com as assim chamadas chaves de quase 1.000 bits, diz Lisa S. Dean, vice-presidente de tecnologia do Free Congress Research & Education Foundation, um instituto de análise e pesquisa sediado em Washington. 'É por isso que 1.028 bits são usados pela maioria das organizações preocupadas com sigilo', explica.


"Se servir de consolo, o grosso de todas as comunicações nunca é ouvido ou visto por pessoas. A principal tarefa do ECHELON é esquadrinhar o trafego de telecomunicações civis em busca de pistas sobre esquemas terroristas, cartéis de contrabando de drogas, agitação política e outras informações solicitadas pelo Pentágono, por estrategistas do governo e órgãos de fiscalização do cumprimento da lei. Supercomputadores peneiram os assim chamados 'interceptados' em busca de palavras-chave associadas a essas questões. Se os computadores não localizam nada de suspeito as fitas são apagadas depois de cerca de 1 mês.


"ABUSOS POLITICOS"


"Mas, como qualquer instrumento tecnológico o ECHELON esta sujeito a abusos políticos - e houve alguns."


"Durante o governo Reagan, o ECHELON interceptou telefonemas de Michal Varnes, então congressista democrata de Maryland, para autoridades nicaragüenses, e transcrições deles foram vazadas para a imprensa. O tiro também pode sair pela culatra: por duas vezes espiões canadenses que colaboraram com a NSA usaram o ECHELON para colher informações sobre acordos pendentes de fornecimento de cereais entre os EUA e a China e roubaram os negócios com preços menores.


"Sem alarde, o ECHELON vem operando há décadas."


Resultou de um pacto secreto assinado em 1948 pelos Estados Unidos, Austrália, Grã-Bretanha, Canada e Nova Zelândia - os países que administram os principais postos de escuta do ECHELON. Então, no ano passado, o sistema foi exposto e levado ao conhecimento da opinião publica por um estudo preparado para o Parlamento Europeu pela Omega Foundation, uma empresa britânica de pesquisa de mercado.
"Os europeus ficaram furiosos com a constatação de que 'dentro da Europa, todas as comunicações por e-mail, telefone e fax são rotineiramente interceptadas' pela NSA."


Ao contrario de muitos dos sistemas de espionagem eletrônica desenvolvidos durante a Guerra Fria, o ECHELON foi desenvolvido para alvos prioritariamente não militares: governos, organizações e empresas de virtualmente todos os países', notou o relatório.


De fato, a maior base da NSA para espionagem eletrônica esta em Menwith Hill, nas charnecas inglesas de Yorkshire. Ela é operada com conjunto com o Government Communications Headquarters (GCHQ) britânico, o equivalente local da NSA.


Pontilhando a estanha instalação há pelo menos 25 estruturas semelhantes a gigantescas bolas de futebol, cada qual ocultando uma antena high tech sintonizada para interceptar um 'alvo' especifico de telecomunicação.


Veja a foto dessas instalações no endereço http://www.arquivo-x.com/recursos/fotografias/echelon/yorkshire .


As revelações da Omega abalaram muitos europeus, apesar de divulgações anteriores como Spyworld, um livro de 1995 escrito por Mike Frost, agente aposentado que foi vice-diretor da parceira canadense da NSA, a Communications Secuity Establishiment (CSE).
"Particularmente, líderes da Europa continental se arrepiaram quando artigos de jornais sugeriram que a ECHELON poderia estar fornecendo informações secretas competitivas a empresas sediadas na Inglaterra.
"'Absolutamente não', declara Bobby Ray Inman, almirante reformado que chefiou a NSA em 1979, quando a CIA propôs o compartilhamento das informações confidenciais sobre negócios. 'Venci aquela parada', diz Inman, explicando que o status multinacional das empresas tornaria difícil escolher beneficiários.


( Nota do editor: Então, se fosse mais fácil, ele acha que não haveria problema? Foi isso que eu entendi?)


"Por exemplo, diz: 'você daria (a informação) a IBM em Paris mas não a Nissan, no Texas?' A NSA recusou-se a falar com Business Week, mas reiterou que não compartilha interceptações com empresas."
"Embora a área de informações econômicas tenha sido sempre uma prioridade do ECHELON, Inman diz que os principais alvos são 'questões comerciais justas e violações comerciais - esse tipo de coisas'.
"(nota do editor: o que são 'questões comerciais justas?'. Quem decide - e como - o que é justo e o que não é?)


"O canadense Frost acrescenta que a área de informações econômicas ganhou importância 'quando a Guerra Fria começou a perder força', mas há uma política rigorosa de não compartilhar essas informações com o setor privado."


"Mas, para executivos de países não anglofonos, a ECHELON cheira a conspiração anglo-saxônica. Pelo Pacto UK-USA, de 1948 a NSA é a líder inconteste, com os aliados ingleses dos EUA como 'segundas-partes'. Apesar de a maioria dos países da OTAN e alguns outros, incluindo o Japão e a Coréia, ter aderido a sociedade UK-USA, desde então, eles são considerados 'terceiras-partes' -- quer dizer que eles tem que direcionar as informações sigilosas a NSA, mas raramente tem acesso as contribuições dos outros. A NSA acalma os sentimentos feridos dando tecnologia de escuta clandestina de derrubar o queixo, e muito, muito dinheiro."


NSA VE TUDO


"Isto coloca a NSA em posição especial. Só ela vê tudo da assim chamada 'comint' (comminications intelligence).
"Grandes quantidades dela fluem continuamente das estações primarias de escuta, acrescidas de dados fornecidos por postos de escuta menores na Alemanha, Japão, Oriente Médio e outras regiões. Muitos deles são operados pelas Forças Armadas americanas, de modo que nem o serviço de informações do país anfitrião sabe o que está sendo interceptado.


"Alem disso a NSA tem pelo menos cinco satélites espiões tão sensíveis que podem monitorar marcas no solo a partir de centenas ou milhares de quilômetros de altitude."
"Tamanha quantidade de informação esta além da capacidade humana de analise. Por isso, a NSA conta com supercomputadores de inteligência artificial."


Programas de reconhecimento da fala e de procura de textos vasculham o trafego de mensagens, 'caçando' palavras ou frases especificas. Cada posto central de escuta tem sua própria lista de palavras-chave, chamada de 'Dicionário', confeccionada sobre medida para as tarefas de espionagem em sua área geográfica. Quando os computadores localizam, por exemplo, o pseudônimo de um terrorista ou um termo de gíria para narcóticos, a mensagem é enviada para um especialista humano.


'Se eu estiver falando com alguém na Alemanha e usarmos um numero suficiente de palavras chave do Dicionário, o ECHELON certamente gravará nossa conversa, diz o analista Pyke. 'Depois, a NSA tentará de todas as formas identificar o alemão com quem conversei. Mas eles são obrigados, por lei, a apagar o meu nome e substitui-lo por 'pessoa americana'. Contudo, a NSA pode facilmente contornar essa proteção legal americana deixando a CSE ou a GCHQ lidar com a conversa suspeita, já que não estão subordinadas as leis dos Estados Unidos ou da Alemanha.


"Muito da aflição na Europa sobre o Relatório da Omega pode ter sido jogo de cena. O serviço secreto francês foi acusado repetidamente pelo FBI de espionar empresas americanas. Bonn tem sua própria mini versão do ECHELON para grampear o trafego internacional de telecomunicações com a Alemanha. E o esquema sendo preparado por ministros da Justiça europeus, projetado para combater o terrorismo e outros crimes graves, não contem controles normativos - causando criticas, e colocou os defensores da privacidade em pé de guerra.
" Para Pyke, as coisas estão ficando fora de controle. A tecnologia de vigilância torna-se tão competente, diz, que os sistemas de escuta logo suplantarão 'os sonhos mais desvairados de George Orwell'. É o bastante para deixar qualquer um paranóico."

Publicado originalmente por BUSINESS WEEK
JORNAL GAZETA MERCANTIL
sexta-feira, 4-6 de Junho
Internacional / pagina A-9


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